A censura no Brasil não é novidade. Ela já chegou, saiu pelas portas da frente e agora volta sorrateira, disfarçada de decisões judiciais, de discursos moralistas, ou da falsa promessa de proteção contra "discursos de ódio". A ideia de limitar a liberdade de expressão deveria causar alarme. Mas, paradoxalmente, muitos brasileiros parecem aceitar – ou ignorar – esse retorno gradual ao controle do pensamento.
Enquanto isso, nas ruas e nas urnas, vemos outro fenômeno tão grave quanto: a tolerância com a corrupção. Políticos sujos, processados, condenados ou claramente envolvidos em esquemas de poder e desvio de dinheiro público, continuam sendo eleitos e reeleitos. A indignação dura até a próxima eleição, até o próximo favor, até o próximo discurso bem ensaiado. O brasileiro, muitas vezes, troca a consciência crítica por promessas vazias, favores pessoais ou por puro desencanto com a política.
Essa passividade não é culpa individual, mas de um sistema historicamente moldado para manter o povo na ignorância, na dependência e no medo. A falta de educação política, o culto à personalidade e a normalização da corrupção criaram um cenário onde o mal é sempre relativo — e onde a memória coletiva é curta.
A censura cresce quando o povo se cala. A corrupção sobrevive quando o povo perdoa. O Brasil não precisa apenas de reformas políticas ou judiciais, mas de um despertar cívico. É hora de lembrar que democracia não é apenas votar — é vigiar, cobrar, denunciar e, sobretudo, não passar a mão na cabeça de quem rouba, mente e cala.