O Brasil enfrenta uma das maiores turbulências econômicas desde o início da República Federal. Pela primeira vez desde sua criação, em 1994, o dólar ultrapassou a marca de R$ 6, com a cotação à vista atingindo R$ 6,0004 na manhã desta quinta-feira (28).
A reação do mercado ao pacote de ajuste fiscal e à reforma do Imposto de Renda, anunciados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, gerou incertezas sobre a capacidade do governo de estabilizar as contas públicas.
Às 11h30, o dólar registrava alta de 1,33%, sendo negociado a R$ 5,9930, enquanto o contrato futuro avançava 0,50%, a R$ 5,989. A bolsa de valores brasileira, o Ibovespa, caía mais de 1%, situando-se em 126 mil pontos, refletindo o ceticismo do mercado. A menor liquidez, intensificada pelo feriado nos EUA, contribuiu para a volatilidade.
O pacote de Haddad, projetado para economizar R$ 71,9 bilhões até 2026, foi considerado insuficiente e carregado de contradições. Entre os principais pontos:
•Idade mínima para aposentadoria militar: 55 anos, com restrições a benefícios para familiares de militares expulsos.
•Revisão do abono salarial: limitado a trabalhadores com renda de até 1,5 salário mínimo.
•Reajuste do salário mínimo: teto de 2,5% de aumento real.
•Limitação de emendas parlamentares.
•Isenção do IR até R$ 5 mil: medida mais controversa, com impacto fiscal estimado entre R$ 40 bilhões e R$ 80 bilhões.
Para compensar parte das perdas, o governo propôs taxar rendas superiores a R$ 50 mil mensais em 10%, abrangendo aluguéis e dividendos.
Especialistas apontam que a isenção do IR, de viés populista, contradiz o objetivo de ajuste fiscal. A medida aumenta o risco de desequilíbrio nas contas públicas, levantando dúvidas sobre o cumprimento das metas de déficit zero para 2025. A elevação das projeções para a taxa Selic, que pode alcançar 14,25%, intensifica a preocupação.